sábado, 25 de dezembro de 2010

Sobre idas.

Eu lembro de você indo embora e lembro dos meus gritos, te pedindo desesperadamente que não fosse. Mentira. É uma mentira tudo. Você não foi embora, querido, mas eu queria que você tivesse ido. Algo só vai embora, depois que vem. E você não veio. Mas se viesse, iria. Iria porque não aguentaria a minha voz doce, muito menos o meu silêncio. E eu te amaria muito, mas ainda assim, faria questão de não provar isso. Você iria embora porque eu teria medo, quando resolvesse mostrar as pinturas que fez. E eu choraria a cada briga nossa, choraria a cada olhar mudo que você me desse. Você iria embora, eu sei, eu sei. Olhe só, eu poderia ficar acordada, enquanto você fizesse o trabalho que trouxe pra casa e te faria café forte, admite, eu sei que você gosta disso. Aliás, eu sei muito sobre você. Você ainda lembra que eu te amo, não é? Por que é que você não veio, mesmo? Ah, sim, eu lembro, você disse que não me queria, justamente pra não me perder. Eu te entendo - não queria, mas entendo.
Ainda tá ai? Eu já te cansei, está vendo? Falar o que nós seríamos, se fôssemos nós é tão chato. Por isso que nunca te falei. Eu não sinto falta do seu pé junto ao meu, mas eu queria, e queria saber como é acordar com seu rosto amarrotado e o cinzeiro sujo no pé da cama, mas você não foi embora.  Não me deixou rouca, não me deixou louca, não me deixou sem comer.
Não ter nunca é pior que não ter pra sempre.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Estava farta do pó que sobrava dos castelos de areia destruídos; do lixo inorgânico, dos sonhos dilacerados, dos corações remendados. Ela cansara de tentar limpar estantes com molduras quebradas e reciclar o refrão. Queria uma mobília nova, queria sonhos inventados, sons ao piano, sinfonias pré compostas. Queria a roupa limpa, os dedos leves, o sorriso sem amargura.
Ela desejava construir uma escada e chegar ao topo, porque tudo o que havia conseguido até então era tentar se equilibrar em degraus já feitos. E caia. Sempre lhe faltou o equilíbrio, a leveza. Ou a tinha demais... Os ventos sempre a arrastavam.
Sempre me pareceu que ela queria muito além do que o mundo poderia oferecer, muito além do aceitável, muito além das previsões alheias. Não importava. Estava cansada, mas não iria parar. Mandou tudo pra puta que o pariu, recolocou a mochila nas costas e seguiu adiante. Mãos suadas e dentes à mostra.

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Acordou, acendeu as luzes. Ligou o computador - naquele dia não queria abrir o velho caderno rabiscado.
Sentou-se, esperou o cansaço matinal passar e tentou escrever. Frustrou-se por não conseguir transmitir pra aquela tela em branco o que se sucedia. Talvez não quisesse mesmo conseguir. Não tinha orgulho algum em falar sobre falsidade, mas esta estava tão presente em seu convívio que era inevitável que não fosse relatada.
O coração estava calmo, sabia que não conhecia muito sobre o assunto. Ficou feliz por ter menos um motivo com o qual se preocupar. Levantou-se, trouxe chá. Achava que se tomasse sempre não ficasse louca tão cedo. Porque enlouquecer naquele mundo de pessoas que correm contra o tempo e desafiam a verdade não era novidade. Tomou um gole e sentiu todo seu corpo relaxar. Era automático.
Começou a escrever. Escrever, pra ela, nunca tinha sido uma opção. Escrever era terapia, tortura, descanso. Queria escrever sobre temas cotidianos, falar da dor alheia, mas não tinha jeito. Quem tem dor suficiente pra tentar desenhar em palavras nunca fala da dor próxima. Tentou falar sobre o amor, apagou. Todo o seu velho tema já tinha sido escrito. Escrito em folhas com linhas perfeitas. E ela não gostava de linhas perfeitas. Era convicta de que essas linhas paralelas tinham que ser um pouco imperfeitas pra se cruzarem, e por isso, ficava esperando. Aguardava a imperfeição que se toca em algum ponto, mas por esses tempos, estava conseguindo aguardar sem ansiedade. Era o chá. Então ela pensou no tema inicial, pelo qual tinha resolvido começar a escrever. Falsidade? Pensou, pensou; pensou mais. Preferiu não escrever. A vivacidade de suas palavras eram demais pra a mortalha que a falsidade veste. Levantou-se, desligou o computador. Recolheu a xícara. Abriu o velho caderno rasurado e não precisou pegar mais chá. Corações tortos e frases cantadas poderiam ser desenhados facilmente naquelas páginas familiares.

sábado, 6 de novembro de 2010

Lembrete.

Feche a porta, menina, porque a única coisa que vai entrar por ela é o vento gélido da madrugada.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Sobre luas.

Indecisa, inconstante, imprevisível. Eu, como boa geminiana, sempre me enquadrei nessas características. Desistir, enjoar, cansar também sempre foram verbos muito conjugados no meu dia a dia. Sou bem daquele tipo de pessoa que luta para conseguir algo e quando consegue não quer mais. Ou que desiste antes de tentar. Nunca estive longe desses padrões, mas algo estranho vem acontecendo e fazendo-me perder as origens. Por um longo período fiquei lamentando, persistindo demais. Eu, com meu humor variante, minha bipolaridade, minhas luas (que não são poucas), me vi acordando seguidamente do mesmo jeito, com a mesma cara, com as mesmas expectativas. Eu, sempre tão mutante, com minhas atitudes tão imprevisíveis vi-me praticando os mesmos atos por todos esses dias. Eu, que nunca gostei de estar presa, que nunca gostei de estar triste, me vi sofrendo. Olhei-me no espelho e não me reconheci. Sou amiga da minha solidão e a valorizo. Minha solidão nunca foi inimiga, nunca foi vilã, mas eu, com meu humor por esses tempos invariável, a fiz bandida. E cansei – o que prova que não me desenquadrei tanto assim. Cansei dessa minha fase fútil. Cansei de não cansar e me manter constante. De ser a mesma, de ser retilínea. Gosto de me ver seguindo meus caminhos tortos. Sendo volúvel.

Sobre um herói e os monstros.

Nós moramos a menos de um km, um do outro, não passamos muito tempo sem nos ver e ainda assim, sua falta me machuca. É falta do seu carinho, pai. Sei que muitas outras pessoas entraram em sua vida e eu já aprendi a repartir o seu amor com elas – ou pelo menos acho que sim. Mas mesmo com essas convicções, as lembranças não me abandonam. De quando o senhor andava a rua inteira, tentando me fazer dormir ou de quando tentou me ensinar a andar de bicicleta.
Sempre gostei de certos cheiros, e o seu chegando em casa depois de um cansativo dia de trabalho sempre me deixava aos pulos. O som do carro entrando na garagem também me deixava feliz. Todos os dias eu corria para a janela, no mesmo horário para te ver chegar. Quando entrava, ia tomar banho e depois jantar. Lembro de que enquanto comia, eu lhe passava as noticias do dia, ansiando para que terminasse sua refeição e eu pudesse sentar no seu colo, sentindo seu abraço e perfume. Por vezes fiquei emburrada, quando estava cansado demais para brincar comigo ou responder os exercícios que eu lhe fazia durante a tarde, mas era só por um instante, porque você me fazia cócegas e a raiva se transformava em risos. Então nós cansávamos (você primeiro, eu em seguida, tentando te reanimar) e dormíamos no sofá. Em alguns minutos eu estava na cama, em paz. Era tudo muito bom, pai. Até esperar sua volta de alguma viagem me fazia feliz, porque era uma desculpa pra conseguir ficar acordada até mais tarde.
Nunca falei sobre isso com ninguém, muito menos com você que só iria poder se entristecer ao ouvir tais palavras – e eu nunca fui boa em falar o que sinto. Percebo que se esforça para se enquadrar no modelo de pai que acha que deve ser e não posso te cobrar mais que um abraço e um beijo depois que quase tudo mudou: perdi minha coroa de sua princesa, meu castelinho de areia o vento arrastou junto com nossos momentos, meus monstros cresceram e saíram de dentro do armário e debaixo da cama... A única coisa que não muda é que meu herói continua o mesmo.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Sobre a nova mobília.

Ei, não entre. Aqui ainda está escuro e você pode escorregar no tapete atrás da porta entreaberta. Estou na poltrona à meia luz do abajur. Encomendei a sua combinando com a mobília nova, que já está pra chegar. Vai ficar ao lado da minha, quando tudo estiver pronto. Talvez demore um pouco, não sei. Essas burocracias têm vida própria, parece.
Faz falta o som do violão e dos seus passos. O vento apaga as ultimas chamas da lareira, mas não vou fechar a porta, gosto de te olhar enquanto se diverte e quase sempre o faço para me certificar que está bem. Olha lá, te chamam. Continue sorrindo que eu cuido da reforma. Se precisar, toque a campainha, mas cuidado com a tinta, que ainda pode estar fresca.
Em algum tempo as luzes estarão acesas, novamente e sua velha manta vai estar lhe aguardando.
Se achar que a mudança demorou demais e quiser procurar outros lugares para descansar, eu requento o café que te fiz quando você chegar.

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Você chora, mas sabe que passa. Passa, passa, sempre passa. Depois que você se convencer que sim.











O difícil é se convencer.


Mas vale tentar.

domingo, 26 de setembro de 2010

Sobre cafés, chás e chocolates quentes.


– Mais um chá, por favor. – pediu.
O velho caderno rabiscado, uma caneta preta e chá. Era tudo o que precisava para conseguir ficar serena, achava. Clara estava de novo sentada naquela mesa mais afastada das demais, para observar. Observar o cotidiano das pessoas. Observar a porta de vidro cada vez que se abria e quem por ela passava. Tantas tentativas de se despregar de seu mundo fosco, todas frustradas. Mas naquele dia algo lhe chamou a atenção. Dois jovens entraram, abraçados, rindo controlados. Sentaram-se próximo ao balcão e fizeram seus pedidos. Ele, um café caprichado, especialidade da casa; ela, um chocolate quente. Enquanto esperavam, conversavam, riam mais, mexiam nos guardanapos, riam novamente. Seria algo contagiante se Clara estivesse com o espírito alegre. Não estava, mas continuou a examinar aquele quadro colorido à sua frente.
Entre tantos sorrisos, mal se podia perceber o olhar deles. Mas o jeito como o garoto tocava os cabelos de sua acompanhante e acariciava-lhe a face rosada depois de tê-la deixado emburrada, era um tanto intrigante. Parecia que ele fazia aquilo só para depois tocá-la, desculpando-se. Ela, por sua vez, fechava os olhos, como se aquele toque a tirasse de seu lugar, como se a levasse para mais perto dele. Era como se estivesse esperando por aquele breve momento fingido de raiva durante todo encontro.
Até que ela abriu os olhos e virou-se para o balcão. Segundos depois seus pedidos chegaram e eles degustaram seus café e chocolate, procurando pelo sabor que não conseguiam sentir, em suas bocas secas. Evitaram se olhar durante algum tempo e depois recomeçaram a conversar, a sorrir de novo.
Clara ficou confusa, por um momento, ao perceber que o tempo de silencio não tinha sido por timidez ou constrangimento, mas era algo necessário, por algum motivo. Algo que provavelmente já havia acontecido outras vezes e ficou pensando no quanto a jovem garota já havia lutado, resistido. Porque se agora ela conseguia, com alguma força de vontade, abrir os olhos e impedir que a sua alma viajasse para mais perto da dele, não deveria ter sido sempre assim. Teve certeza disso quando voltou sua atenção para eles e viu que a cena se repetia. Os sorrisos, os guardanapos, as brincadeiras, as caricias e o silêncio, quebrado por palavras mais calmas.
Acertaram a conta, levantaram-se e caminharam em direção à porta de vidro. Não saíram como entraram, abraçados, somente andaram juntos, lado a lado. Rindo, com um pouco de desconforto nos olhares e nas mãos vazias.
Ao ver aquilo, Clara percebeu que o mundo era desconcertante para todos. Para os mais jovens, para os mais velhos, para ela. O mundo sem respostas, sem explicações, sem porquês. O mundo estimulante, desestimulante. O mundo que causava dor sem anestesia, que doía sem doer, que acostumava. Mundo de pequenas doses e grandes ressacas. Pequeno grande mundo. Observá-lo em busca de razoes plausíveis era maçante demais. Acendeu um cigarro, levantou a mão:
– Mais um chá, por favor. – pediu.

sábado, 25 de setembro de 2010

Sobre os meios


É hora de entrar em recesso, desmontar o cenário e fechar as cortinas. Esperar o porão esvaziar e limpar a vidraça da janela principal. Apagar as luzes e aguardar o som da porta se abrindo.
É hora de vasculhar a gaveta, usar as meias velhas, o par de luvas novas  e esperar que o inverno passe.
É hora de limpar a sujeira que a borracha fez e jogar fora o papel rasgado que você tanto usou como rascunho.
É hora de parar de tentar desenrolar os fios emaranhados e ficar somente com a luz do abajur. Por enquanto.


 À mim. À vocês, amigas lindas. À nós.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Atalhos, retalhos II

Eu não sei o que acontece. Tudo é indolor. Tão indolor que dói. Dói não sentir nada. Dói não ter o que eu quero. Dói mais ainda não saber o que querer. Por vezes chego a conclusões de que não quero nada, não desejo nada. Ou melhor, desejo, mas não posso ter. E o desejo se esvai, mas renasce. Esse despertar inconstante me deixa desesperada. Mas o desespero é mudo, suave, porque já não se encaixa em perfis de condutas desordenadas. E a cada instante que passa o desejo se modifica, mas não evolui. São sempre as mesmas coisas que adentram pensamentos e ocupam lugares que poderiam ser utilizados de forma a compor melodias mais harmoniosas, mas o espaço é tão pequeno e o desejo tão limitado que fico parada. Movimentos estáticos que passam a se dissolver, escorrer. Contradições acompanham minha rotina tanto quanto as águas têm que acompanhar os cursos de seus rios. Por que o “ter que” não vira o querer? Talvez porque o querer seja exatamente esse. Idéias de que se pode mudar o que se quer tornam-se tão falsas ao passar dos instantes que passo a não me preocupar com o rumo das coisas e deixo-me levar por algo já designado. E eu discordo do destino! Quero trilhar meus próprios caminhos e seguir por eles, ai me vem o não conseguir, que me toma nos braços e me leva, ora por mares conhecidos, ora por desconhecidos, deixando-me perdida. Não saber quem eu sou me perturba à medida que me molda. Molduras sem explicações. Simplesmente transformo-me no que faço, no que vejo. Poucas vezes no que eu quero, já que o querer requer esforço, coisa que não é adquirida tão facilmente pelo meu ser. Minhas visões por não serem tão diferentes do enquadramento humano têm dificuldades para achar algum espaço na multidão e mostrar-se. E também há a timidez; não saio do casulo. Vivo procurando dentro de mim maneiras de transpor essas barreiras que não são fáceis e misturar-me à outros sonhos e metas e trilhas e idéias, mas não consigo! As minhas são tão minhas que quase não me pertencem. E eu, egoísta como sou, quero que elas calem-se e fiquem somente aqui. Pertençam-me de um todo que não se mostrem. Então me perco em meus caminhos mal trilhados, com idéias mal formuladas. Mudo a rota pra procurar ajuda e não me podem ajudar. Não conhecem a trilha que eu guardei para mim, somente. Muitos se cansam de tentar refazer, outros desistem de começo. Poucos tomam minhas mãos e seguem até alguma esquina, onde pensam que já ajudaram o suficiente e então voltam aos seus caminhos já bem estabelecidos. Alguns eu agradeço e peço pra ir sozinha novamente, achando que já sei como seguir. Mas não sei. Não sei e não me arrependo, tento ser menos agressiva com o próximo a ajudar. Não consigo. E quando consigo, volto ao que já relatei: estes viram a esquina e me orientam a ir adiante.
Eu quero continuar de mãos dadas. Mas meu desejo é indesejado e confuso. Não posso ir de mãos dadas com quem não pára pra ajudar. Eu quero você. E quero que você me dê a mão, mesmo eu ainda nem sabendo quem é você, ser perdido. Faço uma idéia de quem você seja, idéia dual. Deparo-me novamente com a contradição, que me leva aos extremos. E o extremo é a divisão de caminhos. Divisão essa que deixa-me curiosa, e boa curiosa como sou, experimento todos os fragmentos, sem perceber que fico fragmentada à medida que experimento, por ter que voltar ao inicio e refazer a trilha. Chegando ao cansaço, ao esgotamento e à dor de ter que sentir os calos apertarem dentro dos sapatos já gastos. E não me decido. E por não me decidir, sigo com passos lentos, mesclados de passos rápidos pelo meio da divisão. E não há surpresa, nem encanto, já que todo ele se concentra depois dos extremos, nas quantidades das divisões. E eu sou vários desses caminhos divididos, deixando claro que há o rumo principal, e eu nem o conheço ainda, acho. Se conheço, não me dou conta da importância. Sigo. Sigo por onde não há espaço e não há passos à frente. E o faço de mãos soltas, sedentas de serem presas, por vezes, por outras, felizes pela liberdade do vento que vem do oeste. Liberdade essa que se vê enclausurada vez ou outra. E que logo cansa-se, porque esse enclaustro não é benigno. E se com fosse você, não seria prisão, seria liberdade de mãos atadas. E eu adoraria tê-lo de novo. Por que você teve que seguir o seu caminho? Eu não seria egoísta se resolvesse ficar. Dividiria meus sonhos com você, nesse mundo clichê. Mundo este que seria meu, obviamente. O meu mundo seria seu e nós viveríamos assim. Mas eu sou egoísta, você é egoísta e não queremos pertencer um ao mundo do outro, queremos que você ou eu dividamos e fiquemos presos em mundos alheios. É essa soma de egoísmo que acaba com a nossa liberdade de mãos livres e entrelaçadas, nos deixando sozinhos, novamente. Seguirei meu caminho, com minhas duvidas, incredulidades, egoísmos e curiosidades. Você fará o mesmo do seu, e no fim da nossa caminhada, quando percebermos que valeu a pena ou não, seremos mais harmoniosos e pararemos de tentar nos completar. Saberemos como somar nossas falhas, nossas faltas, nosso amor, e então construiremos o nosso caminho, sem que saibam quem colocou o primeiro pé e deu a partida. Caminho e espero. Caminho e espero. E a vontade de terminar essa trilha me consome toda. Procuro me despir de alguns fracassos pra quando te encontrar ser só vitorias, mas é bem ai que fracasso nova e terrivelmente, porque você vai me querer com todos os meus arranhões, sei disso. E querer-te-ei com seus vários problemas e progressos. Não agora, porque se eu e você estamos maduros para as corridas, não o estamos para a nossa corrida. Ou melhor, nossa chegada.
Eu não tinha este rosto de hoje
Assim calmo, assim triste, assim magro
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Cecília Meireles

É a forma como eu começo pra pôr fim às minhas conclusões. Não é exatamente a falta que me corrói. O que entra em questão aqui é quem eu era quando não havia a ausência.
Ficar pensando nisso não gerou produtividade alguma. A conclusão chegou tempos depois, mostrando-me retratos sem molduras do que eu já não era. Se ainda fosse, doeria. Mas nada sinto. E dói não sentir. Contradições.

A estação. Os trens.

Eu vivo esperando. Esperando o próximo tropeço, a próxima pedra no caminho, a próxima briga, o próximo descuido, deslize. A próxima censura, o próximo choro, chute. A próxima partida, o próximo olhar mudo. A próxima tristeza, a próxima vergonha, o próximo arranhão. A próxima desculpa, a próxima. Eu fico esperando você. E você não vem. E não acalma a minha ânsia. E você fica ai, só me olhando. Fica ai se divertindo. Eu fico aqui. Olhando, esperando. Amando. E dói amar nessas condições. Seus trens partem e você corre sempre atrás do próximo. Você não percebe o que te espera sempre no mesmo lugar. Acompanho sua dor, seus choros, ao observar a partida e você se aconchega em mim. Então o apitar do próximo trem te desperta e você sempre se vai. Eu não vou.  Eu sou sua estação.

Black Hole

Robô. Acredito que essa seja a definição mais plausível pra ela. Seu não sentir (ou não querer sentir) a deixavam desse jeito. Como se não houvesse mais escolhas e por mais que ela tentasse ser insensata, não conseguia.
O mundo, sempre tão cheio de cores, parecia insosso, morno. Toda aquela alegria simulada e aqueles sorrisos, por vezes intensos, ficavam somente na casca. Era raro quando algum filete brilhante alcançava o primor de chegar a seus olhos, a seus pulsos.
Buraco negro. Poder de devorar tudo e não absorver nada. Sentia-se assim. Mais bicho do que gente. Agia por instinto e bastava que a dor ameaçasse alcançá-la pra colocar dentes e garras à mostra. Construía barreiras ou simplesmente saía correndo.


Não há fuga

terça-feira, 17 de agosto de 2010

- Eu acho que está com a pessoa certa.
- É...
- Parece que ela te escolheu.
- E eu nem sei porquê.
- Eu sei.

(Trecho de Um Amor pra Recordar)

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Diálogo - Altruísmo.

- Por que você torce tanto pra que dê certo, Charlie?
- Eu quero vê-la feliz.
- Não é só isso...
- Eu preciso vê-la feliz! Eu a vi morrer várias vezes, quando ela merecia ficar viva. Não quero que aconteça de novo; não pode, Sam, não pode!
- Mas você sabe o que vai acontecer se tudo der certo, não sabe?
- A dor não vai ser grande, se eu puder vê-la feliz, sorrindo.
- Você a ama muito.
- Não sei bem...
- Isso não foi uma pergunta, Charlie.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Onde mora o perigo?

Bella era uma adolescente, de mais de 15 anos, que já havia se apaixonado pelo menos 8 vezes. Era frágil, boba, linda -- embora ela não acreditasse que pudesse ser --. Era sonhadora, lúcida, simples. Não importava se ela teria que percorrer o mundo pra ajudar alguém, ela ajudaria. Você sabe do que eu estou falando, você a conheceu. E nem precisou de muito tempo pra isso, Bella era transparente, confiava fácil demais nas pessoas. Provavelmente com você não foi diferente. E aquele sorriso? Você lembra o quanto ela sorri bonito e várias vezes ao longo de uma conversa, mesmo séria? Sim, ela era uma preciosidade. Raridade, a palavra mais certa.

Melissa, também adolescente e quase da mesma idade. Nunca se apaixonou. Decidiu que seu coração nunca iria se 'abobalhar', como ela costumava dizer. Melissa era forte, calada, complicada. Poucas coisas a entusiasmava de verdade. Poucas coisas a fazia feliz, mas ela não triste, decerto. Se achava linda, capaz. Era autossuficiente e determinada. Chorava pouco e quando o fazia, não permitia que ninguém visse.

Melissa é o tipo de garota que o mundo cria.
Bella não. Bella é do tipo que nasce do amor, do carinho, da ternura.
Melissa enfrenta o mundo. Bella enfrenta a tristeza de dentes à mostra.
Melissa foge do amor, do encanto, do abraço e do carinho.
Bella o trasmite todos os dias, e irradia sol pra a vida das pessoas.

Acho que o que elas têm em comum, além do corpo em que moram, é a verdade que trazem no olhar. É a falta que algumas pessoas fazem à elas. É o jeito de olhar o céu. É o modo que um sorriso retribuido de uma criança na rua pode mudar significativamente o dia delas... É o gosto pelas palavras. É as fases e frases em que elas se dividem.

Onde mora o perigo?

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Sobre a distância.

Nunca acreditei que houvesse remédio para certos tipos de dores. Dor de amor, por exemplo.
Muitos acreditam que só um novo amor pode romper as barreiras da obscuridade e te tirar do negror que você se encontra por causa de um velho amor – perdido, ou não curado, ou nunca tido... Sabem-se lá quantos tipos de dores de amor existem, -- acreditam que seus olhos precisam de outro foco pra brilhar de novo e fazer seu coração de gelo – que você havia jurado nunca mais aquecer – derreter.
Outros acreditam no tempo. Elas acham que o tempo é capaz de curar tudo; tirar o seu foco do centro de atenções e, assim como a Terra, fazer você girar, lentamente, em direção à outro ponto do universo.
Particularmente, eu me encaixava no grupo dos que esperam e deixava que o tempo se encarregasse de ser um cão-guia, mas agora passei a acreditar na distância. É, a distância. Essa, que te faz sentir saudades, que te traz lembranças, que te arranca lágrimas é a mesma que te deixa mais forte e preenche seus olhos de outras coisas que você não é acostumado a ver, ou que não te mostra nada. Simplesmente nada. E te faz seguir em frente, tateando o futuro, com olhos cheios de expectativa e esperança.
Também acredito em parte da sabedoria antiga e deixo uma citação que comprova o meu descobrimento não-particular e recente:
“O que os olhos não vêm o coração não sente”

 
Se quiser, reflita ;)

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Em tempo real.

Ela poderia não ser a garota mais linda do mundo, mas com certeza não passava despercebida. Seus cabelos negros, longos, estavam escorridos sobre a pele tão clara. Ela ainda tinha aquele olhar carregado, mesclando tristeza e alegria, mas que brilhava toda vez que ela sorria.
Ele não sabia o que dizer. Os anos haviam cuidado muito bem dela e incrivelmente ainda parecia aquela menina frágil que ele conhecera. Ficou longos minutos admirando-a, revendo o passado e procurando a insegurança que no seu olhar não refletia mais.
Sentiu vontade de segurar-lhe a mão, tocar sua face, seus cabelos... Mas limitou-se a sorrir, esperando que ela sorrisse em resposta.
Ficou se perguntando se o rubor ainda tomava conta das suas bochechas, se ainda tinha os surtos de raiva, se ainda era carente, frenética... “Quanto tempo se passou!”, pensou.
Ela simplesmente parou. O encontro fora quase perfeitamente calculado, mas ela sentiu que algo prendia seus pés ao chão. Ficou ali mesmo, observando-o.
Aqueles olhos, aquele sorriso. Ele.
Ela queria conseguir sorrir pra que ele sorrisse de volta e exibisse as covinhas, ah, como ela ficava hipnotizada diante delas! Ele possivelmente leu seus pensamentos, sorrindo, e foi o que bastou para seus pés se desprenderem do chão e impulsionarem-na a correr e encontrar os braços dele, mas preferiu somente sorrir em resposta.
Haviam mesmo passado muitos anos. Ele estava diferente. Os cabelos castanhos brilhavam ao sol, que reluzia em sua pele morena e tentava esconder um rosto cansado.
Ela quis lhe fazer mil perguntas, saber como ele estava, o que fazia, se havia cessado sua crise alérgica, se ainda era fascinado por vídeo-games...
Mas nada disse, até que ele aproximou-se e deram-se as mãos. Se olharam por mais alguns segundos, ela fechou os olhos e pensou em tudo o que planejara dizer.
- Era só... Eu(pausa). Amo você.
- Dez anos depois. – ele disse, num sorriso que ela adoraria ter visto.
- Mas você sempre soube, melhor do que eu...
Soltou a mão dele, recolocou os óculos escuros e se foi. Ignorou o olhar dele, pois teve receio de que estivesse confuso, e preferiu só andar; ir, mais uma vez.
Ela se enganara. Ele havia entendido perfeitamente bem. Não ficou devendo nada em resposta, quem o estava fazendo era ela... Porém no tempo certo, no tempo dela. Deu um longo suspiro, faiscou uma olhada pelo caminho que ela se fora, virou-se e então seguiu o seu.

Atalhos, retalhos.  

Não era fácil explicar. Mais difícil ainda era ser entendida. Por si mesma. A rota da razão e a linha do coração. Por instinto, sempre soube que era certo correr dali. Fugir. O máximo que seu ritmo pudesse alcançar. Mas era justamente isso que lhe faltava. Ritmo. Percepção. Consciência.
Na existência de dois caminhos, ir entre eles era confrontar a insanidade demais... Sanidade. Razão. Pulsação. Da pulsação restara o apelo desesperado pelo nada. Não havia mais escolhas e nem a dor queria mais acompanhá-la. Eram pedaços desprendidos e reunidos como restos o bastante pra o nada habitar ali. Somente o nada.
Por um momento, parou e observou. Olhou para trás, para os lados... Tinha chegado a hora, sabia.
Ouviu um badalar, um tanto amargo; não era ruim, tampouco bom. Era somente um som. Morno, pesado e claro. Servindo para avisá-la: era o fim da espera. Algo que a impedia de ficar parada e impulsionava a garota a marchar. Dessa vez, ela iria à frente.
“Eu tinha que ficar feliz. E quando você quer, você fica. Comecei a ficar.”     – C.F.Abreu

segunda-feira, 28 de junho de 2010

O brilho oculto .

O verde da árvore em contraste com o azul do céu. O vento que batia em seu rosto e balançava seus cabelos. A beleza de nenhuma nuvem encobrindo o sol em outro canto. As folhas caindo no quintal e sendo arrastadas pela brisa suave. A harmonia do canto dos pássaros. A doçura que sentia emanar de dentro de si e se misturar à natureza naquele meio de tarde de domingo...
Apesar de toda a angústia e de todo o sofrimento que as coisas lhe causaram, ela sentiu descansada. E em paz. Encheu-se de esperança, recolocou o brilho nos olhos e resolveu esperar. Somente esperar.

sábado, 24 de abril de 2010

To fit

Bella sabia que ela continuaria a ser sua amiga por muito tempo, ainda. Existia tanto amor na reserva...
Existem coisas que acontecem sem explicação, mesmo.

Como nenhuma precisava mais conquistar a outra todos os dias, era tudo bem mais natural, agora. Alguns desentendimentos, às vezes, alguns afastamentos, mas era difícil, muito difícil ficar por muito tempo sem os colos,  abraços, beliscões, mordidas e olhares de Sophia.
E Bella sentia que a amizade se renovava, se reestabelecia depois que uma nuvem passava. agora é só manter a confiança que depositaram uma na outra pra quando a santa chuva resolver passar por vocês. é só fecharem os olhos quando for preciso. é só saber enxergar e compreender os defeitos da outra. É só entender que as coisas mudam e que se a amizade for verdadeira ela vai modificar pra se encaixar e preencher o mesmo espaço, novamente.

domingo, 4 de abril de 2010

Short story of the time...

Há quem diga que o tempo cure tudo. Há quem diga que o tempo não cure nada.
Pode ser que tanto um quanto o outro sejam verdade...
Acredito somente no fato de que o tempo não cura tudo – ou não cure nada - , mas tira o foco do momento, do centro das atenções.
Dói, custa a passar, mas tira.

Foto: Créditos à Thainá Carline.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Lie to me.

Por favor, minta pra mim. Só hoje. Eu sei que soa estranho, mas minta pra mim. MINTA. Eu preciso que você faça isso. Oh, diga que vai dar tudo certo, por favor. Eu sei. EU SEI que talvez isso não seja verdade. Mas hoje, só por hoje, diga isso! Invente argumentos aí. Revire sua memória. Procure a sua melhor pessoa mentirosa e tente me convencer que vai ficar tudo bem. Isso é sério. Eu tenho um coração nas mãos, eu tenho uma incerteza maior que eu aqui dentro. Como cabe? Não cabe! Ela escapa. Escapa especialmente pelos olhos e escorre pela minha face. Mas isso não acontece sempre. Às vezes ela fica presa aqui. Deixa-me quase que explodindo. Eu tento fazê-la sair, mas ela não obedece à minha razão. Não obedece! Ah, incerteza, saia daí. Não me deixe prestes a estourar. Eu estou prestes a quebrar. Dá pra notar? Como podem caber tantas duvidas, pensamentos e medos em um ser só? Um ser tão pequeno e tão frágil diante disso... Não dá pra correr. Não é possível fugir disso! Se ousar ir pra um lado, posso ser pega. Se for pro outro, posso arruinar tudo. Às vezes eu quero adiantar os passos e ver no que dá, mas eu tenha essa incerteza enorme que me fere e me deixa de pés fincados no chão. Parada aqui. Parada. É como se fosse dado um ‘stop’ automático em plena corrida. Olha quantas pessoas correndo e te ultrapassando! Olha só!... Mas eu, simplesmente não posso avançar a passos rápidos e longos. Eu tenho que me contentar com os pequenos e lentos, e por vezes ainda incertos. Aonde eu quero chegar assim? O que vai ser daqui pra frente?... Pequenas pistas surgem como dicas de futuros. Será assim? Oh, não dá mais pra ser assim! Não dá. Eu preciso fugir daqui. Mas como? Por favor, por favor. Minta pra mim. E hoje, só hoje, me diga que vai ficar tudo bem. Eu lhe entenderei se não der. Mas só hoje fale isso. E minta. Minta pra mim.


Lembrei desse texto hoje - que havia feito à umas semanas atrás - por causa de Rodrigo, que perguntou pelo atualização do blog... Tá ai, Tiê

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Ao meu melhor amigo.

Oi. Espero que você saiba que eu escrevi isso pra você. Eu sinto muito a sua falta, e eu sei que vai continuar a ser assim. Ninguém pode mudar o passado, mas se eu pudesse mudaria algumas coisas. Eu poderia esconder o que quer que fosse, se isso pudesse preservar nossa amizade. Eu esconderia até o fim da vida, ou melhor, eu esclareceria comigo mesma sobre o que estava acontecendo. Porque hoje eu descobri que a dor aqui dentro não é por causa das suas escolhas. Mas existe por causa das milhas de distancia entre nós. Eu queria poder estar com você, quando qualquer fragmento de dor ameaçasse a te machucar. Mas eu não posso, amigo. Muitas coisas mudaram, e não seria a mesma coisa. E eu também sei que se houver qualquer coisa com você, terá muita gente legal pra te ajudar. Agora você está bem, e eu, sinceramente, espero que continue assim. Eu quero ver você feliz e se cuidando. Por favor, se cuide. Eu te amo.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

is always so...

Você acha que está tudo bem. Uma situação-limite – nada de bom está acontecendo, mas nada de ruim, também – vem a vida e dá uma guinada. 360 graus. Não é nada que estivesse totalmente nulo de acontecer, em sua mente. Mas havia – havia – a possibilidade daquilo não ser verdade. Mas é. Agora, tudo o que você não precisava está na sua frente e você não pode fugir. Simplesmente não pode. Hoje, tudo o que eu falei sobre eu ser forte, está virando hipocrisia. E, se eu te disser que eu sou forte, nesse momento de minha vida, eu estarei mentindo. Eu sinto como se tudo tivesse vindo à tona. Tudo o que estava escondido e amontoado no armário caiu, porque a porta foi aberta. E agora não há pra onde correr. Simplesmente não se vê uma salvação para os seus planos. Hoje, primeira semana do ano de 2010 e eu aqui – escrevendo sobre coisas ‘ruins’. Eu sinto tanta falta da garota de olhos encantados, coração na boca e uma doçura – quando ela queria – incomparável. Eu sinto falta da menina sonhadora que devia estar aqui hoje falando sobre um mundo que melhorasse com pó de pirlim-pim-pim; a garota que levava sempre consigo um trecho da Clarisse que dizia que “Ela acreditava em anjos. E porque acreditava, eles existiam”. Talvez os anjos não existam mais...
Ou talvez, o encanto só esteja escondidinho, bem lá no fundo da alma. Barrado pelas guinadas que a vida inventa de dar sempre que ela acha que pode ver seu mundo brilhante reluzir de novo. Talvez essa menina boba e sorridente ainda exista. Eu peço aos anjos dela todos os dias que ela exista. É. Talvez ela, seus anjos, e o pozinho existam mesmo. E só estejam esperando uma oportunidade pra fazer os olhinhos encantados da autora do desabafo brilharem de novo.