Estava farta do pó que sobrava dos castelos de areia destruídos; do lixo inorgânico, dos sonhos dilacerados, dos corações remendados. Ela cansara de tentar limpar estantes com molduras quebradas e reciclar o refrão. Queria uma mobília nova, queria sonhos inventados, sons ao piano, sinfonias pré compostas. Queria a roupa limpa, os dedos leves, o sorriso sem amargura.
Ela desejava construir uma escada e chegar ao topo, porque tudo o que havia conseguido até então era tentar se equilibrar em degraus já feitos. E caia. Sempre lhe faltou o equilíbrio, a leveza. Ou a tinha demais... Os ventos sempre a arrastavam.
Sempre me pareceu que ela queria muito além do que o mundo poderia oferecer, muito além do aceitável, muito além das previsões alheias. Não importava. Estava cansada, mas não iria parar. Mandou tudo pra puta que o pariu, recolocou a mochila nas costas e seguiu adiante. Mãos suadas e dentes à mostra.
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