Também senti-me útil, traduzi a canção que fizeram em russo, atravessei a ponte e um peixinho-sapo-lagartixa pulou pra me desejar boa caminhada.
Corri algumas milhas e encontrei os brinquedinhos enterrados no mesmo lugar. Todos com um cheiro de infância sem tamanho.
A menina olhou pra mim meio de lado e eu dei o maior sorriso que pude. Ela quase caiu da bicicleta tentando imitar meu sorriso. Para alegria dela. Para a minha. Para a nossa. Todos os meus órgãos sorriram e meu estômago roncou - já era de se esperar.
Fui na padaria que vende sonhos de pré-escola e comprei cinco. Comi todos. Exceto por um que a cachorrinha levou pra ela e o marido.
Voltei contando piadas e as pedras quicaram feito bola. Então os três sóis transformaram-se em uma enorme lua. Eu sempre soube que a lua cheia tinha algum segredo. Três sóis. Impossível de se imaginar.
A nuvem a encobriu, compreendi que era hora de voltar. Voltei.
Agora sou o silêncio. Agora escuto. Agora tenho três sóis. E um coração
na boca.