sexta-feira, 25 de maio de 2012

O segredo do sol na lua

Hoje vi três sóis, compreendi Deus, abracei o garotinho, corri até o quintal, apertei o dolorido, li em maio, Setembro, gostei de ser simples, fui mágica, contei risos, soltei pássaros, amei uivos, comi flores. Hoje eu nem soube o que era dor, não soube o que era erro. Não senti raiva, não chorei, não tive vontade de dormir, folheei o jornal, li a matéria sobre economia, pulei raminhos de mato no chão quebrado da calçada, olhei pro lado e vi. Vi o que não via, o que não queria ver, o que deveria ver e o que se escondia. Até consegui escrever, veja só.
Também senti-me útil, traduzi a canção que fizeram em russo, atravessei a ponte e um peixinho-sapo-lagartixa pulou pra me desejar boa caminhada.
Corri algumas milhas e encontrei os brinquedinhos enterrados no mesmo lugar. Todos com um cheiro de infância sem tamanho.
A menina olhou pra mim meio de lado e eu dei o maior sorriso que pude. Ela quase caiu da bicicleta tentando imitar meu sorriso. Para alegria dela. Para a minha. Para a nossa. Todos os meus órgãos sorriram e meu estômago roncou - já era de se esperar.
Fui na padaria que vende sonhos de pré-escola e comprei cinco. Comi todos. Exceto por um que a cachorrinha levou pra ela e o marido.
Voltei contando piadas e as pedras quicaram feito bola. Então os três sóis transformaram-se em uma enorme lua. Eu sempre soube que a lua cheia tinha algum segredo. Três sóis. Impossível de se imaginar.
A nuvem a encobriu, compreendi que era hora de voltar. Voltei.
Agora sou o silêncio. Agora escuto. Agora tenho três sóis. E um coração


na boca.