domingo, 23 de janeiro de 2011

Cláudia.

Para entender Cláudia, antes de qualquer coisa você precisa se livrar do bom senso. Ou pelo menos do seu senso comum. Não espere vê-la sorrindo pra você por mera educação. Apesar do bom ensino que recebeu, ela dispensa aproximações fúteis. Me parece que gosta da mistura, da dança, do embalo do que é errado e trágico. E eu digo trágico pra ela, não pro mundo.
Nenhuma mosca é capaz de estragar seu entorno, apesar de invadir lugares e incomodar. Não, eu não estou comparando-a a uma mosca, só estou dizendo que ela não é capaz de bagunçar o mundo só porque deseja fazê-lo. Na verdade, ela não deseja. Diz que sim, mas não deseja. Cláudia é capaz de apreciar qualquer luz num ambiente, capaz de apreciar o pouso de uma borboleta sobre uma flor, a fila indiana das formigas para entrar no formigueiro. É capaz de se apaixonar por alguém que tenha conhecido a menos de uma hora e desapaixonar no minuto seguinte. É capaz de embalar quem quer que seja numa conversa altamente produtiva ou simplesmente dizer que gosta de bala de maçã, de balão, de criança sorrindo, de gente conversando no banco da praça...
Se ela tem cicatrizes, feridas? Ah, quem não tem, não é? Algumas ainda doem, às vezes inflamam, ardem, mas ela as assopra e pronto, a coisa ameniza. Pra ser mais exata, acho que passa por alguns instantes, mas é melhor que ela te explique, não eu.
Todas as coisas que nos acontecem moldam nosso caráter, mudam nossas ideias, nos aproximam e nos distanciam de nós mesmos. Cabe a nós decidir para onde queremos ir.
Ela é uma mulher forte, mas calma. Tendo sua exceção nos breves momentos de fúria, nos momentos em que a sutileza declina, mas em geral, é calma.
Uma vez a vi chorar e considerei umas das cenas mais belas em que estava presente. Não era um choro desesperado, só triste. Aliás, muitíssimo triste. Assim que me viu, Cláudia sorriu levemente, enxugou a última lágrima, recolheu sua bolsa no chão e foi-se. Não acho que ela tenha gostado do que vi e receio nunca mais vê-la, mas espero pacientemente por isso. Enquanto não a reencontro, tento decifrar aquele sorriso. Meu medo maior é consegui-lo.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Superfície.

Eu não preciso de alguém pela metade, nem de sentimentos gastos. Não preciso de um pedaço de seu coração ou de sua mente. Não preciso que você me olhe e veja outro sorriso em meu rosto. Não preciso que você fique aqui só porque não pode estar lá. Não preciso que você se apaixone por mim pra esquecer alguém. Se não for inteiro, se não for verdadeiro, pode guardar pra você.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Relatos de Cláudia.

Tá, vou te falar sobre a mensagem mais bonita do mundo. Não tinha "eu te amo" nem "fique comigo pra sempre", mas tudo o que ele teria que saber pra querer continuar comigo, ou não. Sem nenhuma culpa, ou medo pelo pouco tempo eu disse que gostava da idéia do "nós" e o enviei com o coração controlado a uns poucos pulinhos safados e inevitáveis. Implorei aos Céus que ele não me respondesse de imediato pra dar tempo do meu coração sossegar e eu pensar: pronto, já pode responder. Mas ainda assim, iria querer que ele fizesse drama, ficasse mudo e me deixasse neurótica, porque, meu bem, você sabe que mulher adora um dengo quando está a ponto de explodir, não é? Pois então. Passei da fase dos pulinhos safados, da calma sofrida, da súbita e lancinante raiva - que me fez o odiar por horas à fio até eu conseguir pegar no sono, me sentindo quase culpada por ter exposto pra ele todos os meus limites -, e finalmente da espera cautelosa de quem inventa os próprios consolos pra não sumir e enfiar a cara no buraco mais próximo do Japão que acha.
Então aquela luzinha verde e trêmula piscou, olhando pra mim. Sabe os pulinhos ligeiros? Agora eram cavalos à galope, com jóqueis segurando plaquinhas que diziam: lê logo, imbecil! E a imbecil vai, pega o dispositivo de luzinha verde e começa a passar os olhos por cada letra da segunda mensagem mais bonita do mundo. Sem promessas ou declarações desmesuradas. Sem clichês baratos de casais que se amam além da vida e quebram a cara além da morte. Sem futuros ou invenções de sentimentos que nós sabíamos que ainda não existiam. Eram menções da construção de um presente, sem grandes ou pequenas ilusões, mas com direito a coraçãozinho rosa no final.
Caprichou, hein, Céus?