sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Descolorindo: escura, parda

Para quê servem os filmes franceses? Você vai me ensinar ou me deixar tamborilando os dedos aqui enquanto eu ensaio qualquer coisa pra parecer menos dramática? Quando eu acho que aprendi a andar, aparece uma pedrinha no chão e me faz tropeçar três quilômetros. São três quilômetros esfregando a cara no chão, rasgando os nós dos dedos tentando me impôr um freio pra ver se hoje, hoje, hoje eu consigo concretizar algum feito que não seja um arfar cansado de esperar.
Uma garota apareceu e disse "Escreve. Escreve isso aí. Escreve que passa". E eu achando que essa fala fosse minha, achando que eu já soubesse disso, achando que não estava perdida. Bobagem. Nós sempre iremos nos perder no caminho. Quando ela me olhou e pediu com aqueles olhos - que eu ainda vou ver sorrindo em fagulhinhas anônimas de luz - não pude resistir. Parecia que naquele momento eu havia escrito um filme e entregado o roteiro a ela. Ela, que eu sempre admirei de longe, me pareceu tão perto. Me apareceu tão perto. Quase "junto, sem caber". E eu agradeci, porque, querendo ou não, por sorte ou azar dela, gostei do que ela representou. Gostei porque ela me mostrou que uma casa inabitada não é um lar. Tão básico... E eu procurando um sentido oposto pra não desabar.
Aprendi que posso desabar quando eu quiser, porque alguém, num dia de muito sol, de muita luz, de muito medo, criou as palavras e nos emprestou.  Assim como eu emprestei esse texto a ela, convidei a entrar na dança e ofereci metade do meu coração. Metade, porque todo é meu. E é meu porque tem todos. Incluindo ela. Agora, já.