segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Sobre um herói e os monstros.

Nós moramos a menos de um km, um do outro, não passamos muito tempo sem nos ver e ainda assim, sua falta me machuca. É falta do seu carinho, pai. Sei que muitas outras pessoas entraram em sua vida e eu já aprendi a repartir o seu amor com elas – ou pelo menos acho que sim. Mas mesmo com essas convicções, as lembranças não me abandonam. De quando o senhor andava a rua inteira, tentando me fazer dormir ou de quando tentou me ensinar a andar de bicicleta.
Sempre gostei de certos cheiros, e o seu chegando em casa depois de um cansativo dia de trabalho sempre me deixava aos pulos. O som do carro entrando na garagem também me deixava feliz. Todos os dias eu corria para a janela, no mesmo horário para te ver chegar. Quando entrava, ia tomar banho e depois jantar. Lembro de que enquanto comia, eu lhe passava as noticias do dia, ansiando para que terminasse sua refeição e eu pudesse sentar no seu colo, sentindo seu abraço e perfume. Por vezes fiquei emburrada, quando estava cansado demais para brincar comigo ou responder os exercícios que eu lhe fazia durante a tarde, mas era só por um instante, porque você me fazia cócegas e a raiva se transformava em risos. Então nós cansávamos (você primeiro, eu em seguida, tentando te reanimar) e dormíamos no sofá. Em alguns minutos eu estava na cama, em paz. Era tudo muito bom, pai. Até esperar sua volta de alguma viagem me fazia feliz, porque era uma desculpa pra conseguir ficar acordada até mais tarde.
Nunca falei sobre isso com ninguém, muito menos com você que só iria poder se entristecer ao ouvir tais palavras – e eu nunca fui boa em falar o que sinto. Percebo que se esforça para se enquadrar no modelo de pai que acha que deve ser e não posso te cobrar mais que um abraço e um beijo depois que quase tudo mudou: perdi minha coroa de sua princesa, meu castelinho de areia o vento arrastou junto com nossos momentos, meus monstros cresceram e saíram de dentro do armário e debaixo da cama... A única coisa que não muda é que meu herói continua o mesmo.

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