quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Acordou, acendeu as luzes. Ligou o computador - naquele dia não queria abrir o velho caderno rabiscado.
Sentou-se, esperou o cansaço matinal passar e tentou escrever. Frustrou-se por não conseguir transmitir pra aquela tela em branco o que se sucedia. Talvez não quisesse mesmo conseguir. Não tinha orgulho algum em falar sobre falsidade, mas esta estava tão presente em seu convívio que era inevitável que não fosse relatada.
O coração estava calmo, sabia que não conhecia muito sobre o assunto. Ficou feliz por ter menos um motivo com o qual se preocupar. Levantou-se, trouxe chá. Achava que se tomasse sempre não ficasse louca tão cedo. Porque enlouquecer naquele mundo de pessoas que correm contra o tempo e desafiam a verdade não era novidade. Tomou um gole e sentiu todo seu corpo relaxar. Era automático.
Começou a escrever. Escrever, pra ela, nunca tinha sido uma opção. Escrever era terapia, tortura, descanso. Queria escrever sobre temas cotidianos, falar da dor alheia, mas não tinha jeito. Quem tem dor suficiente pra tentar desenhar em palavras nunca fala da dor próxima. Tentou falar sobre o amor, apagou. Todo o seu velho tema já tinha sido escrito. Escrito em folhas com linhas perfeitas. E ela não gostava de linhas perfeitas. Era convicta de que essas linhas paralelas tinham que ser um pouco imperfeitas pra se cruzarem, e por isso, ficava esperando. Aguardava a imperfeição que se toca em algum ponto, mas por esses tempos, estava conseguindo aguardar sem ansiedade. Era o chá. Então ela pensou no tema inicial, pelo qual tinha resolvido começar a escrever. Falsidade? Pensou, pensou; pensou mais. Preferiu não escrever. A vivacidade de suas palavras eram demais pra a mortalha que a falsidade veste. Levantou-se, desligou o computador. Recolheu a xícara. Abriu o velho caderno rasurado e não precisou pegar mais chá. Corações tortos e frases cantadas poderiam ser desenhados facilmente naquelas páginas familiares.

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