quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Os saltimbancos em um carnaval sem fim.

Nascia, em 1944, um verdadeiro amante. Das letras, das mulheres, da música. Se pertencesse ao norte-nordeste, eu poderia dizer que nasceu em meio ao fogo das comemorações juninas, mas não. Trinta e quatro anos depois, em fevereiro e na agitação do carnaval fluminense, após a boemia e o rock aparentemente terem perdido o seu charme, frente a tantos outros ritmos dominando o país, eis que nasce outro grande poeta musical.
Primeiro, com todo respeito e admiração, falo do poeta-teatrólogo-cantor-compositor-escritor, enfim, artista, dos olhos de ardósia (assim definidos pela polícia, numa ficha preenchida, quando jovem) e uma alma vasta de doçura e sensualidade, Francisco Buarque de Hollanda. Nosso Chico. Nosso menino socialista, que nasceu na mesma cidade do ainda bebê, Marcelo Camelo. Um bebê barbudo, que convida a juventude do segundo milênio a admirar composições limpas, livres de órgãos sexuais ralando no chão, na parede, no escuro.  Dois “jovens”(com algumas muitas aspas pendendo para o lado do garoto trilingue, das marchinhas de carnaval) que proclamam o amor. O amor que dói, que arde, que queima. O amor que sustenta, que produz. O amor operário, o amor no último romance, o amor amor, o amor atrás da porta, o amor da menina bordada, da imaculada, das meretrizes.
Quem não conhece Geni, também não conhece a crítica social presente na língua de Chico. Uma língua que lambeu a paixão, mas que ajudou a abocanhar as mazelas sociais e reuní-las em contos cantados há cerca de 50 anos.
Entre Chico e Camelo, não somente uma letra em comum em suas inicias artísticas, mas um dicionário musical, onde eles, mesmo separados por anos de idade e décadas de divergentes conflitos públicos, concretizam a música como um instrumento de luta, de ideologias e manutenção de ideias, e acima de tudo de sentimentos, mostrados na fila do pão ou nas vitrines, pra ver a moça e a banda passar.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Lave-se, leve-se.

Lava essa alma, garota. A culpa é sua mas não é exclusiva. Relaxa, agora. Já se culpou, já se rasgou toda, já chega.
Se perdoa, solta esse cabelo, que a vida não vai ficar te esperando. Olha aqui, você não foi a única, então larga esse rei-ego destronado, vai.
Corre ali, tem gente sorrindo, tá vendo? Gente que não desistiu de ser quem é. Nem dos sonhos, nem dos tombos. Nós só não caímos se ficamos parados, inertes. E tudo bem, se for escolha sua ficar inteira, pode permanecer estática e nada muda. Mas se quiser ter pedaços e sorrisos arrancados, levanta. Levanta, se joga no mar, lava essa cara. Não precisa trocar a roupa, vem como tá! E nem pensar em só molhar o pezinho, guria. Chegou a hora de mergulhar de cabeça.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

O barco é nosso.

Leu o título? Sim, o barco é nosso e você sabe disso. O barco e até a água em que ele flutua(va). Eu sei, joguei o remo fora. Não precisa me lembrar que estava turbulento, olhe, eu sei, mas só queria ressaltar que o barco ainda é nosso. Apesar de ter pulado na água e te deixado sozinho no meio do oceano. Apesar de desistir tão fácil. Você já sabia que o barco ia furar ora ou outra e eu sei que você detestou ter me visto nadar pra longe, pra muito longe. Mas o barco é nosso, lembra? Nossas iniciais e nosso amor estavam gravados. Nossos sorrisos e meus choros angustiados.
Você também não sabe, mas no meio da minha procura por um porto, quis te salvar, te tirar do frio e te aquecer num abraço. Foi difícil lutar contra esse tubarão que é meu ego e entre uma onda e outra afundei a procurar nossos remos. Em pouco tempo você conseguiu ajuda e uma boia enquanto eu lutava pra recuperar. Pra nos recuperar. E retornei tarde demais... Mas o barco é nosso! Ouça-me! O barco é nosso, as lembranças são nossas, as feridas são nossas!

Tô na costa. Tô tentando avistar você à deriva. Tô seca. Tô ao sol. Traga o barco. Tô te esperando.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

No Consultório:

- Cuidado, menina. Tanta fantasia pode causar-lhe dores terríveis.
- E quanto à realidade, doutor?
(Silêncio).

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Um céu azul.

Um céu azul. Imagem bonita, não é?
Nesse meu último aniversário, recebi várias felicitações. Dezoito anos, marcante e tal. Uma delas foi bem simples. Tão simples quanto suave. Como quando a gente recebe uma florzinha roubada. "Um céu azul pra você". Nada mais sincero que isso me foi dito. E se foi, minhas desculpas, mas não senti. E a gente só admite sinceridade a algo quando sente. Já fazem mais de quatro meses, mas tornei a lembrar disso e senti vontade de escrever só pra garantir que eu não esqueceria. Se bem que esquecer algo tão intenso é difícil, por ser raridade. Um céu azul. Minha alma sorri toda vez que penso nessa ideia, porque, vindo de quem veio, não poderia ser nada menos bonito do que imagino. Leve, doce.
Quando não estou com um céu azul na cabeça, penso na frase e logo são salpicadas umas nuvens, com um raio de sol aqui e acolá. Lindo. E só quem tem o hábito de pensar em coisas doces pode saber do que se trata. Poderia citar uma infinidade delas, presentes na natureza e até no que não é, mas prefiro que quem estiver me lendo tenha sua própria identidade de suavidade e beleza.
Não costumo escrever esse tipo de texto aqui, mas hoje senti necessidade disso.






Um céu azul pra vocês.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Dança comigo.



Me puxe, me enlace, me sufoque. Me tome, me chame. Tudo assim mesmo, com “me” na frente. Me queira. Vamos, garoto, põe aquela música brega, aquela valsa vienese pra tocar no seu radinho de pilhas e me leva com você. Agora.
Você passa e leva junto a metade da minha concentração, do meu sorriso, do meu dia. Vai lá fora, toma um ar e volta fingindo que nada aconteceu. Volta como se não soubesse que meu olhar te acompanhou além das paredes e bancadas. Volta como se os olhares que me olhavam também não olhassem pra você. Pra você e essa sua mania - que, desculpa, mas eu já conheço - de ignorar fatos e atos e sair de cena apressadamente, com seu andar ereto. Qual nada, garoto. Não ache que adquiriu maturidade suficiente pra passar por cima de mim assim, nem desvie esse olhar mais uma vez porque eu já vi. Encare. Cadê sua maturidade pra me encarar, agora? Cadê? Cadê as regras? Me mostre. Me faça alguma coisa. Me enrubesça, me ofusque. Me adapte, me cate. Põe o som, vai. Me chama pra dançar, faz como no sonho. Anda, porque o tempo corre e já está anos luz à sua frente. Não vacile agora, nem finja, mais uma vez que não sentiu o líquido do copo tremer na sua mão. Eu vi, não tem pra onde correr. Aliás, tem. Tem uma estrada até aqui, corre, vem cá, dança comigo.

domingo, 11 de setembro de 2011

O tempo é águia.

Não há mais disposição para escrever. A máquina cansa-me, as teclas estão emperradas e o tempo voa, menino. O tempo é uma águia. O tempo te supera, me supera, me faz te esquecer, me esquecer, sumir. O tempo é o enredo, essas teclas emperradas, o cenário. Divina comédia nós dois. A vida que escorria de minhas mãos, agora rolam feito água em cachoeira pelos teus ombros, tão caídos, cálidos. Parte de carne humana que eu quis pra mim, só pra mim. O tempo é águia. Repito quantas vezes quiseres ouvir. O tempo é sangue.

Menino. Você é somente um menino. Um menino e seus passos esperando para serem andados. Vai, anda, que o vento te arrasta. Vai, deixa a brisa pra mim. Porque o tempo é águia e já levou embora você. De mim.

Letras numa máquina emperrada... A brisa que aqui ficou leva meu recado pra você, menino. Adeus.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Cartas.

(...) Pois é, José, 'tão achando que estou com problemas só porque ando sossegado, calado, quase em paz. Pois é, José. Não abalo, não os culpo. Nunca me viram assim; natural que me tentem os instintos. Mas não adianta. Caminho seguro, tenho forças pra me sustentar, pra seguir adiante. Ando bem, não entendem. Vê aí se consegue avisar que o sossego pode ser o melhor amigo do homem, embora um cão possa correr ao seu lado na chuva. Diz que esqueçam essas leis que o mundo impõe, como se pra se mostrar feliz a gente precisasse sorrir o tempo todo, ou pra se mostrar normal, precisássemos ter uma paixão rasgando a alma. E que, por favor, parem de se prender em gaiolas de metal, enquanto o vento norte sopra sadio.
Ontem resolvi só observar. É fácil, se você fingi um certo grau de autismo - como colocar fones de ouvido no máximo, Zé - e observar pequenas coisas ao seu redor. Quero que experimente a sensação. Rostos, bocas que falam e não ouvem, sons que se chocam, sorrisos em fabricação e desmache... Observe, sinta. Depois de tanto tempo falando, tentando, agindo e coagindo, resolvi somente ser. Sei que és um dos que andam, talvez, preocupado e queria só avisar, que mesmo com toda essa correria dá pra sorrir, vez em quando. Sossega, vive, realiza, homem. Parei de tentar mudar o mundo, sabe? Resolvi aproveitar algumas coisas, até então intocadas. Lindas, doces, frescas. Assim que as conhecer melhor te apresento. Deus disse que me ajudaria, para que eu não desistisse de ser quem sou. Assim que me conhecer melhor, não tenha dúvidas: me reapresento. 
Um beijo enorme. Vê se cuida do seu agora, mas não esquece o amanhã, amigo. Dele é que provirá o ontem.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Mais vale um pássaro que canta, que dois pássaros mudos.

Você nem sabe, mas noite passada sonhei com a gente. Foi cômico, porque no sonho nada tinha mudado: você não tinha ido embora e eu ainda podia descansar a cabeça sobre seu ombro sem que ninguém atrapalhasse.
Lembrei da epopeia desconexa de nossas vidas e achei até engraçado que estivesse se repetindo. O mundo envolvia nossos braços e eu já não podia te sentir.
Nós não pedimos por isso (ou pedimos), mas hora ou outra a física, a química e a má gramática da vida (um salve à magia do Teatro) vai nos dissipar. O que fica disso, meu bem? Fica você em mim. Você e todos os seus olhares. Olhares ferinos, míticos, suaves, sadios. Fica você e toda a sua leveza, sua dureza, sua vida, seu sorriso. Fica você e meu não amor. Meu eterno não amor que, por não ser nada, não acaba. E sabes, tu sabes.
"O que é um pássaro na gaiola?" com esse pensamento te libertei de mim pra não pesar, pra não calhar, pra não acabar. Com esse pensamento te mantive em mim, livre. Pra ficar ao seu lado eu precisava ajeitar o ninho. Pra conseguir te ouvir, o pássaro precisou não cantar. E mais vale um pássaro que canta,  que dois pássaros mudos.
Realinhei o mundo, sem muita dor, pra te ter por perto sempre. Pra não ficar deserto. Pra continuar concreto. Pra te amar mais...
Realinhei o mundo pra você continuar achando graça, pra perder-se na praça, pra abraçar a palhaça, que se vale de sorrisos. E versos.

Não é preciso dizer que te amo.
Tanto.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Nós: dós e rés.

Daríamos uma bela história. Não dessas classe "C", cinema barato. Nós seríamos nós. Nós desataríamos os nós. Nós a sós, em dós e rés.
Mas nós,
não mais sós,
desatamos os nós
que antes eram laços,
pedaços,
abraços.

E quase esvaiu-se.
E o quase, quase me mata,
arrebata, ingrata.
A dança acabou?

Menina, eu te queria em postas, destroçada, acabada, nula, suada, murcha, presa, doida, arrebatada, desesperança, minha.


"Eu sei, não é assim, mas deixa eu fingir e rir." (Los Hermanos)

domingo, 5 de junho de 2011

Verde, cor de mato.

Hoje eu olhei meu email às cinco da manhã pra ver se você tinha deixado algo. Nada. Olhei mil vezes durante a noite o celular. Nada. Você não admitiu importância ao fato.
Ontem eu fui àquela casinha verde que compraríamos daqui a dois meses. “No meio do mato” como gosta de dizer. Fiquei algumas horas na varandinha, esperando que algo me ocorresse – não sei exatamente o que eu queria, só sei que não queria morar ali com você. Não queria nada ali com você. Foi quando resolvi te ligar e dizer que tinha cancelado nossa compra e nosso compromisso. Fiquei esperando sua voz desesperar, me implorando que não fizesse isso, que eu era seu ponto de partida, sua luz, e que – por Deus – não te deixasse. Você não disse.
Foi a prova que eu precisei de que não me amavas de verdade. E se ama de mentira, mulher? Não sei. Talvez fosse de mentira o que eu sentisse. Meio utópico, meio fuga, sabe? Eu te usei pra fugir desse mundo de preto e branco em que vivia, pra chamuscar com algum colorido minha vida. Você me parecia a tinta perfeita. Verde, cor de mato. A tranqüilidade era a melhor parte da nossa relação estabilizada. Sentia-me bem compartilhando contigo minha rotina e parte do meu passado. Você era meu futuro alinhado. Alinhado, que cômico, logo eu que sempre gostei de tudo fora dos conformes.
Eu tinha lido em algum lugar de frases melódicas e preestabelecidas que ‘quem ama, não te deixa ir’, o que entrou em contradição com o dito  ‘deixe livres as borboletas’. Vai entender... A verdade é que você não queria ir, então eu não deveria te forçar. Provavelmente já tinha percebido esse meu jeito de mandar as coisas à merda, quando estavam bonitas e sutis demais. É verdade, eu sou compulsivamente louca pela loucura. Gosto da desordem dos fatos, gosto um tanto de perversidade, mista de imaturidade e desdém. Dizer que você era bom demais pra mim é um pouco ambicioso. E mesmo não querendo te machucar, tenho que dizer o certo: tens a característica que me dá medo e, por conseguinte, insegurança. Tens a característica assombrosa, responsável e a única que eu (percebi) vivo me afastando. Você é o cara certo.

quinta-feira, 10 de março de 2011

Mariana.

Ontem a campainha tocou. Do jeito que estava - cabelo e roupa desgrenhados - fui atender. Meus olhos não acreditaram no que viram, até que meu cérebro me alertou que eu não estava sonhando e já podia me mover. Mariana estava na minha porta e, sem pedir licença entrou, assim como fez meses antes. Ninguém pronunciou uma só palavra. Ah, minha menina, porque foi embora daquele jeito?
Alguns segundos seguidos de olhares se passaram e depois ela foi até a cozinha e pegou um copo d'água. Eu a segui com a certeza de que ela tinha algo a me dizer. Copo, água e orgulho ao chão. Sem mais, nem menos, Mariana me deu o beijo que me fez descobrir que eu tinha um coração em cada nó de veia do corpo. Um beijo melhor que qualquer noite de sexo casual que havia tido em quatro meses, desde que ela se fora. Tive certeza de que sabia do abalo que causava em mim quando eu, sem me dar conta, deixei a ponta dos dedos passar por seu rosto suado de sol e nervoso. Em milésimos de segundos eu já estava completamente entregue, novamente. E em um pouco mais que isso já não a tinha em meus braços, fracos.
Não quis abrir os olhos e vê-la saindo por onde tinha entrado a breves minutos. Preferi ficar saboreando o gosto pelo qual implorei solenemente pra que tivesse de volta.
Deixei o copo no chão e hoje estou aqui na praia. Com o mar. E Ana. Com mar e Ana. Mar e Ana. Mariana...
Não, é só Ana, mesmo. Parece coisa feita pra eu não esquecê-la. Mas, digo-lhe: poderia ser Lourdes, Gabriela, Ângela... eu não a tiraria das minhas fantasias. Tenho o mar e Ana, agora. Calmos, os dois em maré baixa. E é também por isso que não a esqueço. Mariana, diferente de outros sujeitos próprios é mar agitado, revolto, ondas quebradas. Vai e volta. E eu, fico, fico. Espero.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Relatos de Cláudia - O amor.


Acho que já deu. Já deu descarregar minha angústia, ou sei lá o que é isso, nas palavras. Você me faz te odiar com suas atitudes mesquinhas e imbecis e gastar trilhões de palavras (que quase nunca são expostas) numa tentativa infundada de aliviar a tensão que fica entre mim e o amor que eu dedico à você. As pessoas já nem entendem o porquê de eu ainda te amar desse jeito, quando a única coisa que, parece, que você faz bem é me desestruturar e perturbar o pouco de equilíbrio que eu guardo, quando o assunto é “nós”, ou a falta desse pronome.
Mas a verdade é que só eu sei o que tudo isso provoca em mim e o quanto você foi e é importante. Por que? Porque é você, só isso. Porque nenhuma pessoa provoca em mim essa variedade de amores. Amor de amigo, de amante, de irmão e de filho. Dá pra entender agora a causa de eu nunca deixar de me importar com você, mesmo sabendo que ainda vou ter que aguentar uma porrada de coisas que, provavelmente irão me machucar?
Você erra, tropeça, cai e às vezes não me procura pra te ajudar à levantar, pois sabe que o motivo da sua queda me rasgaria. Você erra, tropeça, cai e me procura, porque sabe que não vai conseguir sem mim. Você erra, tropeça, cai, e nem liga, porque nem doeu tanto assim. E eu te admiro, por todas as vezes você se erguer, mesmo que demore. 
Minha maior dor é ter que te ver deixando-se ferir, deixando-se sofrer, por alguns segundos de prazer. Eu penso que a vida já lhe ensinou o suficiente pra não cair mais nas ciladas dela e você continua me provando que ainda é uma criança imatura que eu tenho que cuidar pra não ser esmagada por tantos pés. Esqueceu de ontem, meu amor? Eu te lembro. Sei que dói, mas é necessário. Ah, se lembra? Então fico quietinha, no meu canto, te deixo em paz e rezo pra estar errada, mas ainda assim, esquento o abraço pra quando resolve voltar e me ouvir por algum tempo. Talvez eu nunca tenha passado das palavras, nas minhas tentativas de provar meu amor e o quanto eu lutaria por ti e pra nunca precisar te ver sofrer de novo. Guardo as suas, quando disse que não me queria pra não me perder e eu te entendo, Meu Deus, eu te entendo! Você vai algum dia dizer que me odeia e que odeia meus cuidados, por vezes abusivos; vai dizer que é chato eu nunca parar de te amar, porque todo mundo para, um dia e eu vou ficar novamente com minha cara de choro, vou mandar você embora e no outro dia te ligar pedindo desculpas, porque o erro, meu bem, foi meu. Depois vai ser minha vez de me odiar e ficar sem falar contigo porque o erro foi seu. E tudo é culpa sua, minha falta de amor por seres perfeitos é culpa sua. Minha falta de sono é culpa sua. Minha falta de amor próprio é culpa sua. E eu quero que você morra, mas, (por favor!) me leve junto.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Acho que já deu. Já deu descarregar minha angústia, ou sei lá o que é isso, nas palavras. Você me faz te odiar com suas atitudes mesquinhas e imbecis e gastar trilhões de palavras (que quase nunca são expostas) numa tentativa infundada de aliviar a tensão que fica entre mim e o amor que eu dedico à você. As pessoas já nem entendem o porquê de eu ainda te amar desse jeito, quando a única coisa que, parece, que você faz bem é me desestruturar e perturbar o pouco de equilíbrio que eu guardo, quando o assunto é “nós”, ou a falta dessa 1ª pessoa do plural.
Mas a verdade é que só eu sei o que tudo isso provoca em mim e o quanto você foi e é importante. Por que? Porque é você, só isso. Porque nenhuma pessoa provoca em mim essa variedade de amores. Amor de amigo, de amante, de irmão e de filho. Dá pra entender agora a causa de eu nunca deixar de mim importar com você, mesmo sabendo que ainda vou ter que aguentar uma porrada de coisas que, provavelmente irão me machucar?
Você erra, tropeça, cai e às vezes não me procura pra te ajudar à levantar, pois sabe que o motivo da sua queda me rasgaria. Você erra, tropeça, cai e me procura, porque sabe que não vai conseguir sem mim. Você erra, tropeça, cai, e nem liga, porque nem doeu tanto assim. E eu te admiro, por todas as vezes você se erguer, mesmo que demore. 
Minha maior dor é ter que te ver deixando-se ferir, deixando-se sofrer, por alguns segundos de prazer. Eu penso que a vida já lhe ensinou o suficiente pra não cair mais nas ciladas dela e você continua me provando que ainda é uma criança imatura que eu tenho que cuidar pra não ser esmagada por tantos pés. Esqueceu de ontem, meu amor? Eu te lembro. Sei que dói, mas é necessário. Ah, se lembra? Então fico quietinha, no meu canto, te deixo em paz e rezo pra estar errada, mas ainda assim, esquento o abraço pra quando resolve voltar e me ouvir por algum tempo. Talvez eu nunca tenha passado das palavras, nas minhas tentativas de provar meu amor e o quanto eu lutaria por ti e pra nunca precisar te ver sofrer de novo. Guardo as suas, quando disse que não me queria pra não me perder e eu te entendo, Meu Deus, eu te entendo! Você vai algum dia dizer que me odeia e que odeia meus cuidados, por vezes abusivos; vai dizer que é chato eu nunca parar de te amar, porque todo mundo para, um dia e eu vou ficar novamente com minha cara de choro, vou mandar você embora e no outro dia te ligar pedindo desculpas, porque o erro, meu bem, foi meu. Depois vai ser minha vez de me odiar e ficar sem falar contigo porque o erro foi seu. E tudo é culpa sua, minha falta de amor por seres perfeitos é culpa sua. Minha falta de sono é culpa sua. Minha falta de amor próprio é culpa sua. E eu quero que você morra, mas, (por favor!) me leve junto.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

A boneca.

Eram três. Não sei o que viram em mim que as deixaram com aquele sorriso nos rostos, mas o que vi nelas certamente dá pra se tentar explicar. Enquanto eu esperava, cansada, minha carona, elas esperavam a mãe, que trabalhava no mesmo lugar que eu. Brincavam, pulavam e volta e meia uma delas olhava pra mim, sorria - com os lábios, com os olhos - e segurava a expressão até que eu retribuísse o gesto, o que fazia aumentar o brilho em sua face. Era a mais velha. Apesar de, julgando pela idade, ela não ter a inocência que a pequena de cachos caramelo tinha, parecia ter uma doçura maior que qualquer ingenuidade. Ao se voltar pra mim, ao exibir os dentes e ao me observar, parecia que ela tinha algo à apreciar. Deduzi. Aqueles olhos pequenos admiravam a casca, a pele. Mal sabia o que se escondia embaixo de tudo o que via. O salto alto, pra camuflar os calos, gerados pelas quedas e rasteiras; a maquiagem forte, disposta a cobrir com um batom vermelho os lábios que tinham preguiça de sorrir. Esmalte, cor e tom numa alma acinzentada. Uma alma no meio de centenas, que corria pra não perder o trem, pra não perder o horário, pra não perder o salto. Uma alma no meio de centenas que não fazia esforço pra se destacar, não procurava viver, afim de pelo menos, sobreviver.
A mãe das meninas demorou pra chegar, assim como o meu transporte e isso quase me deixou aborrecida. Digo quase porque o sentimento não se concretizou, ao vê-las, mais uma vez, olhando pra mim e admirando tanto, tanto, aquilo que o salto agulha sustentava. Olha, crianças, se quiserem, podem ficar aí pra sempre, mas não me olhem assim. Aqui é só uma capa, sabiam? Isso acaba. Vocês nem podem imaginar que aqui, embaixo de tudo isso existe uma criança medrosa, insegura e boba. Vocês nem imaginam, que aqui só tem um pedaço de gente grande querendo ser levada pra casa no banco de trás do carro e fazendo birra pra colocar o cinto. Vocês, pequenas, nem sonham, que o monstro do armário cresce junto com vocês. Olha, não queiram crescer. O que acham de liberar esses pedaços de sol, por mais tempo pra mim, enquanto a lua cuida do céu? O que acham de não crescerem nunca? Não? Querem ser iguais à mim? Assim, com meio mundo de problemas? É? Certeza?
Tiraram o olhar de mim e seus rostos se encheram de luz e alegria, quando viram a mãe, depois da longa espera correndo pra abraçá-las. Em meio à abraços, sorrisos e atualizações das notícias do dia surgiu a proposta que as garotas esperavam: quem chegar primeiro na sorveteria, toma quantas bolas de sorvete  quiser!
E naquele momento eu desejava me livrar do salto e lembrar do quanto era delicioso me lambuzar. Desejava correr e gritar: eu vou tomar o maior sorvete! Calda de morango, cabelo voando e felicidade. Naquele momento eu queria ser criança. Mas me dei por satisfeita quando uma delas, no meio da euforia, virou-se e acenou pra mim. "Tchau, moça do olho bonito, próxima semana a gente vem pegar mamãe de novo, aí você me diz o seu nome, pra eu colocar na minha boneca nova. O meu é Gabi."
Tchau, Gabi.
Sorri.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Cláudia.

Para entender Cláudia, antes de qualquer coisa você precisa se livrar do bom senso. Ou pelo menos do seu senso comum. Não espere vê-la sorrindo pra você por mera educação. Apesar do bom ensino que recebeu, ela dispensa aproximações fúteis. Me parece que gosta da mistura, da dança, do embalo do que é errado e trágico. E eu digo trágico pra ela, não pro mundo.
Nenhuma mosca é capaz de estragar seu entorno, apesar de invadir lugares e incomodar. Não, eu não estou comparando-a a uma mosca, só estou dizendo que ela não é capaz de bagunçar o mundo só porque deseja fazê-lo. Na verdade, ela não deseja. Diz que sim, mas não deseja. Cláudia é capaz de apreciar qualquer luz num ambiente, capaz de apreciar o pouso de uma borboleta sobre uma flor, a fila indiana das formigas para entrar no formigueiro. É capaz de se apaixonar por alguém que tenha conhecido a menos de uma hora e desapaixonar no minuto seguinte. É capaz de embalar quem quer que seja numa conversa altamente produtiva ou simplesmente dizer que gosta de bala de maçã, de balão, de criança sorrindo, de gente conversando no banco da praça...
Se ela tem cicatrizes, feridas? Ah, quem não tem, não é? Algumas ainda doem, às vezes inflamam, ardem, mas ela as assopra e pronto, a coisa ameniza. Pra ser mais exata, acho que passa por alguns instantes, mas é melhor que ela te explique, não eu.
Todas as coisas que nos acontecem moldam nosso caráter, mudam nossas ideias, nos aproximam e nos distanciam de nós mesmos. Cabe a nós decidir para onde queremos ir.
Ela é uma mulher forte, mas calma. Tendo sua exceção nos breves momentos de fúria, nos momentos em que a sutileza declina, mas em geral, é calma.
Uma vez a vi chorar e considerei umas das cenas mais belas em que estava presente. Não era um choro desesperado, só triste. Aliás, muitíssimo triste. Assim que me viu, Cláudia sorriu levemente, enxugou a última lágrima, recolheu sua bolsa no chão e foi-se. Não acho que ela tenha gostado do que vi e receio nunca mais vê-la, mas espero pacientemente por isso. Enquanto não a reencontro, tento decifrar aquele sorriso. Meu medo maior é consegui-lo.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Superfície.

Eu não preciso de alguém pela metade, nem de sentimentos gastos. Não preciso de um pedaço de seu coração ou de sua mente. Não preciso que você me olhe e veja outro sorriso em meu rosto. Não preciso que você fique aqui só porque não pode estar lá. Não preciso que você se apaixone por mim pra esquecer alguém. Se não for inteiro, se não for verdadeiro, pode guardar pra você.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Relatos de Cláudia.

Tá, vou te falar sobre a mensagem mais bonita do mundo. Não tinha "eu te amo" nem "fique comigo pra sempre", mas tudo o que ele teria que saber pra querer continuar comigo, ou não. Sem nenhuma culpa, ou medo pelo pouco tempo eu disse que gostava da idéia do "nós" e o enviei com o coração controlado a uns poucos pulinhos safados e inevitáveis. Implorei aos Céus que ele não me respondesse de imediato pra dar tempo do meu coração sossegar e eu pensar: pronto, já pode responder. Mas ainda assim, iria querer que ele fizesse drama, ficasse mudo e me deixasse neurótica, porque, meu bem, você sabe que mulher adora um dengo quando está a ponto de explodir, não é? Pois então. Passei da fase dos pulinhos safados, da calma sofrida, da súbita e lancinante raiva - que me fez o odiar por horas à fio até eu conseguir pegar no sono, me sentindo quase culpada por ter exposto pra ele todos os meus limites -, e finalmente da espera cautelosa de quem inventa os próprios consolos pra não sumir e enfiar a cara no buraco mais próximo do Japão que acha.
Então aquela luzinha verde e trêmula piscou, olhando pra mim. Sabe os pulinhos ligeiros? Agora eram cavalos à galope, com jóqueis segurando plaquinhas que diziam: lê logo, imbecil! E a imbecil vai, pega o dispositivo de luzinha verde e começa a passar os olhos por cada letra da segunda mensagem mais bonita do mundo. Sem promessas ou declarações desmesuradas. Sem clichês baratos de casais que se amam além da vida e quebram a cara além da morte. Sem futuros ou invenções de sentimentos que nós sabíamos que ainda não existiam. Eram menções da construção de um presente, sem grandes ou pequenas ilusões, mas com direito a coraçãozinho rosa no final.
Caprichou, hein, Céus?