sábado, 26 de fevereiro de 2011

Relatos de Cláudia - O amor.


Acho que já deu. Já deu descarregar minha angústia, ou sei lá o que é isso, nas palavras. Você me faz te odiar com suas atitudes mesquinhas e imbecis e gastar trilhões de palavras (que quase nunca são expostas) numa tentativa infundada de aliviar a tensão que fica entre mim e o amor que eu dedico à você. As pessoas já nem entendem o porquê de eu ainda te amar desse jeito, quando a única coisa que, parece, que você faz bem é me desestruturar e perturbar o pouco de equilíbrio que eu guardo, quando o assunto é “nós”, ou a falta desse pronome.
Mas a verdade é que só eu sei o que tudo isso provoca em mim e o quanto você foi e é importante. Por que? Porque é você, só isso. Porque nenhuma pessoa provoca em mim essa variedade de amores. Amor de amigo, de amante, de irmão e de filho. Dá pra entender agora a causa de eu nunca deixar de me importar com você, mesmo sabendo que ainda vou ter que aguentar uma porrada de coisas que, provavelmente irão me machucar?
Você erra, tropeça, cai e às vezes não me procura pra te ajudar à levantar, pois sabe que o motivo da sua queda me rasgaria. Você erra, tropeça, cai e me procura, porque sabe que não vai conseguir sem mim. Você erra, tropeça, cai, e nem liga, porque nem doeu tanto assim. E eu te admiro, por todas as vezes você se erguer, mesmo que demore. 
Minha maior dor é ter que te ver deixando-se ferir, deixando-se sofrer, por alguns segundos de prazer. Eu penso que a vida já lhe ensinou o suficiente pra não cair mais nas ciladas dela e você continua me provando que ainda é uma criança imatura que eu tenho que cuidar pra não ser esmagada por tantos pés. Esqueceu de ontem, meu amor? Eu te lembro. Sei que dói, mas é necessário. Ah, se lembra? Então fico quietinha, no meu canto, te deixo em paz e rezo pra estar errada, mas ainda assim, esquento o abraço pra quando resolve voltar e me ouvir por algum tempo. Talvez eu nunca tenha passado das palavras, nas minhas tentativas de provar meu amor e o quanto eu lutaria por ti e pra nunca precisar te ver sofrer de novo. Guardo as suas, quando disse que não me queria pra não me perder e eu te entendo, Meu Deus, eu te entendo! Você vai algum dia dizer que me odeia e que odeia meus cuidados, por vezes abusivos; vai dizer que é chato eu nunca parar de te amar, porque todo mundo para, um dia e eu vou ficar novamente com minha cara de choro, vou mandar você embora e no outro dia te ligar pedindo desculpas, porque o erro, meu bem, foi meu. Depois vai ser minha vez de me odiar e ficar sem falar contigo porque o erro foi seu. E tudo é culpa sua, minha falta de amor por seres perfeitos é culpa sua. Minha falta de sono é culpa sua. Minha falta de amor próprio é culpa sua. E eu quero que você morra, mas, (por favor!) me leve junto.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Acho que já deu. Já deu descarregar minha angústia, ou sei lá o que é isso, nas palavras. Você me faz te odiar com suas atitudes mesquinhas e imbecis e gastar trilhões de palavras (que quase nunca são expostas) numa tentativa infundada de aliviar a tensão que fica entre mim e o amor que eu dedico à você. As pessoas já nem entendem o porquê de eu ainda te amar desse jeito, quando a única coisa que, parece, que você faz bem é me desestruturar e perturbar o pouco de equilíbrio que eu guardo, quando o assunto é “nós”, ou a falta dessa 1ª pessoa do plural.
Mas a verdade é que só eu sei o que tudo isso provoca em mim e o quanto você foi e é importante. Por que? Porque é você, só isso. Porque nenhuma pessoa provoca em mim essa variedade de amores. Amor de amigo, de amante, de irmão e de filho. Dá pra entender agora a causa de eu nunca deixar de mim importar com você, mesmo sabendo que ainda vou ter que aguentar uma porrada de coisas que, provavelmente irão me machucar?
Você erra, tropeça, cai e às vezes não me procura pra te ajudar à levantar, pois sabe que o motivo da sua queda me rasgaria. Você erra, tropeça, cai e me procura, porque sabe que não vai conseguir sem mim. Você erra, tropeça, cai, e nem liga, porque nem doeu tanto assim. E eu te admiro, por todas as vezes você se erguer, mesmo que demore. 
Minha maior dor é ter que te ver deixando-se ferir, deixando-se sofrer, por alguns segundos de prazer. Eu penso que a vida já lhe ensinou o suficiente pra não cair mais nas ciladas dela e você continua me provando que ainda é uma criança imatura que eu tenho que cuidar pra não ser esmagada por tantos pés. Esqueceu de ontem, meu amor? Eu te lembro. Sei que dói, mas é necessário. Ah, se lembra? Então fico quietinha, no meu canto, te deixo em paz e rezo pra estar errada, mas ainda assim, esquento o abraço pra quando resolve voltar e me ouvir por algum tempo. Talvez eu nunca tenha passado das palavras, nas minhas tentativas de provar meu amor e o quanto eu lutaria por ti e pra nunca precisar te ver sofrer de novo. Guardo as suas, quando disse que não me queria pra não me perder e eu te entendo, Meu Deus, eu te entendo! Você vai algum dia dizer que me odeia e que odeia meus cuidados, por vezes abusivos; vai dizer que é chato eu nunca parar de te amar, porque todo mundo para, um dia e eu vou ficar novamente com minha cara de choro, vou mandar você embora e no outro dia te ligar pedindo desculpas, porque o erro, meu bem, foi meu. Depois vai ser minha vez de me odiar e ficar sem falar contigo porque o erro foi seu. E tudo é culpa sua, minha falta de amor por seres perfeitos é culpa sua. Minha falta de sono é culpa sua. Minha falta de amor próprio é culpa sua. E eu quero que você morra, mas, (por favor!) me leve junto.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

A boneca.

Eram três. Não sei o que viram em mim que as deixaram com aquele sorriso nos rostos, mas o que vi nelas certamente dá pra se tentar explicar. Enquanto eu esperava, cansada, minha carona, elas esperavam a mãe, que trabalhava no mesmo lugar que eu. Brincavam, pulavam e volta e meia uma delas olhava pra mim, sorria - com os lábios, com os olhos - e segurava a expressão até que eu retribuísse o gesto, o que fazia aumentar o brilho em sua face. Era a mais velha. Apesar de, julgando pela idade, ela não ter a inocência que a pequena de cachos caramelo tinha, parecia ter uma doçura maior que qualquer ingenuidade. Ao se voltar pra mim, ao exibir os dentes e ao me observar, parecia que ela tinha algo à apreciar. Deduzi. Aqueles olhos pequenos admiravam a casca, a pele. Mal sabia o que se escondia embaixo de tudo o que via. O salto alto, pra camuflar os calos, gerados pelas quedas e rasteiras; a maquiagem forte, disposta a cobrir com um batom vermelho os lábios que tinham preguiça de sorrir. Esmalte, cor e tom numa alma acinzentada. Uma alma no meio de centenas, que corria pra não perder o trem, pra não perder o horário, pra não perder o salto. Uma alma no meio de centenas que não fazia esforço pra se destacar, não procurava viver, afim de pelo menos, sobreviver.
A mãe das meninas demorou pra chegar, assim como o meu transporte e isso quase me deixou aborrecida. Digo quase porque o sentimento não se concretizou, ao vê-las, mais uma vez, olhando pra mim e admirando tanto, tanto, aquilo que o salto agulha sustentava. Olha, crianças, se quiserem, podem ficar aí pra sempre, mas não me olhem assim. Aqui é só uma capa, sabiam? Isso acaba. Vocês nem podem imaginar que aqui, embaixo de tudo isso existe uma criança medrosa, insegura e boba. Vocês nem imaginam, que aqui só tem um pedaço de gente grande querendo ser levada pra casa no banco de trás do carro e fazendo birra pra colocar o cinto. Vocês, pequenas, nem sonham, que o monstro do armário cresce junto com vocês. Olha, não queiram crescer. O que acham de liberar esses pedaços de sol, por mais tempo pra mim, enquanto a lua cuida do céu? O que acham de não crescerem nunca? Não? Querem ser iguais à mim? Assim, com meio mundo de problemas? É? Certeza?
Tiraram o olhar de mim e seus rostos se encheram de luz e alegria, quando viram a mãe, depois da longa espera correndo pra abraçá-las. Em meio à abraços, sorrisos e atualizações das notícias do dia surgiu a proposta que as garotas esperavam: quem chegar primeiro na sorveteria, toma quantas bolas de sorvete  quiser!
E naquele momento eu desejava me livrar do salto e lembrar do quanto era delicioso me lambuzar. Desejava correr e gritar: eu vou tomar o maior sorvete! Calda de morango, cabelo voando e felicidade. Naquele momento eu queria ser criança. Mas me dei por satisfeita quando uma delas, no meio da euforia, virou-se e acenou pra mim. "Tchau, moça do olho bonito, próxima semana a gente vem pegar mamãe de novo, aí você me diz o seu nome, pra eu colocar na minha boneca nova. O meu é Gabi."
Tchau, Gabi.
Sorri.